Título: A filha primitiva Autora: Vanessa Passos Editora: Publicação independente Páginas: 97 Ano: 2021

Há cerca de um ano, conheci a obra Desesterro, da Sheyla Smanioto. Agora, uma vez mais, me deparo com uma história forte, densa — apesar da linguagem relativamente fácil de ler — intensa e, em certa medida, brutal.
“Que alegria tem botar criança no mundo pra sofrer?”
E por que mencionar Desesterro aqui, ao invés de ir diretamente para a resenha de A filha primitiva? Porque ao iniciar a leitura desta obra, deparei-me com uma epígrafe que trazia, justamente, um trecho de Desesterro. E se de início isso foi uma surpresa, ao final da obra eu conseguia entender que a escolha talvez não pudesse ter sido melhor.
“Se tem os rastros, é porque a vida não é mais a mesma”
Em uma ficção que é a verdade de tantas pessoas, Vanessa Passos nos transporta em uma imensidão de sentimentos. E assim, uma obra curta transforma-se numa leitura que pede pausas, uma tomada de fôlego para seguirmos com os acontecimentos e pensamentos.
“Vou me descobrindo enquanto escrevo, quando puxo de dentro uma palavra depois da outra, sem sentido lógico as palavras continuam vindo”
A narrativa se passa em Fortaleza e retrata uma mulher — a protagonista — que tenta (re)construir sua história, mas que sem ter peças muito importantes para tal empreitada, desespera-se, revolta-se, amargura-se.
“Um dia eu engoli o orgulho e fui procurar a vizinha, perguntar sobre o meu pai”
Sobre isso, a própria autora traz uma reflexão muito importante na introdução do livro: às vezes, ter uma história também é um privilégio de classe e gênero. Forte, não? Pois lendo o livro, a gente sente com ainda mais força essas palavras.
A mãe dessa protagonista recusa-se a dar qualquer informação sobre o pai, mesmo diante de todo tipo de insistência da filha. E é evidente os embates que elas vivem diariamente, numa relação um tanto quanto complicada e dolorosa.
“Fui levando para frente as escolhas que eram mais delas do que minhas”
Não bastasse a complexidade da vida entre essas duas mulheres, soma-se uma terceira à história: a filha. E, ainda que ela não tenha muita consciência do que se passa ao seu redor (apesar de provavelmente sentir), é uma personagem igualmente sofrida. Afinal, é como a autora também diz na introdução: como uma mãe que não se sente pertencente ao mundo pode transmitir esse sentimento à filha?
“A menina sugando de dentro de mim a mãe que eu não era”
Nenhuma dessas três figuras femininas têm nome. E apesar deste não ser um recurso original, ele ainda causa um efeito muito forte, principalmente em uma história como essa.
“Um personagem só ganha vida, só se materializa com o nome”
O fato das personagens não terem nome é ainda mais relevante quando compreendemos que a protagonista é uma pessoa que conhece, aprecia e participa da literatura.
“Dói parir palavras. Dói mais ainda viver com elas dentro”
Mas não é como se nenhum personagem tivesse nome ao longo do livro. Os homens tem. O que também é bem significativo diante da narrativa que se desenrola, permeada de violências, dores, desamores.
“Naquele dia eu descobri que a palavra rasga mais que faca no corpo”
Ao olharmos para A filha primitiva, talvez não possamos imaginar o que nos aguarda. A riqueza dessa narrativa certamente surpreende. Não à toa, a obra foi vencedora da 6º Edição do Prêmio Kindle de Literatura. Então, se quiser conhecê-la, não deixe de clicar aí embaixo:
Qual é a temática ?
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Uma mulher tentando reconstruir/entender a própria história, mas sem acesso a peças importantes para isso
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Sim, eu li a resenha mas ainda não consegui entender direito do que fala 😉 pergunto porque é o que eu escrevo, no absoluto 💚
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Entendi! É que é difícil explicar para além disso. Em essência, uma história de relações familiares primitivas e viscerais. Mas claro que a trama acaba trazendo muito mais que isso, com seu desenrolar que nos enreda. Vale a leitura, ao menos da amostra, para se ter uma ideia!
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Sim. Tb acho. Veremos se encaixo mais essa leitura heheh
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