
Falei sobre L’ultimo arrivato (Marco Balzano) recentemente, mas, como acaba acontecendo quando gosto muito de um livro, diversos quotes ficaram de fora da resenha.
Por ser uma obra italiana, farei o que costumo fazer: vou colocar os quotes em português (tradução livre, feita por mim) e, ao final, os originais, na ordem em que aparecerem aqui, para quem quiser dar aquela espiadinha nessa língua maravilhosa.
A história de L’ultimo arrivato é forte e nos faz refletir sobre aspectos bem diversos de nossa existência, como, por exemplo, amizades e preconceitos:
“Amigos verdadeiros me parece que só se pode ser quando pequenos, quando somos limpos por dentro e não fazemos cálculos de interesse nem outras obscenidades.
E ainda nesse caminho dos preconceitos — e coisas que precisamos desmitificar —, há uma passagem que chamou minha atenção, falando sobre o choro:
“Vendo-me chorar, ficou de boca aberta e me disse que chorar é a última coisa que devemos fazer neste mundo, porque não serve para nada”
Esse trecho chamou minha atenção porque eu sou muito a favor do choro livre, por quem for! (O que não significa, necessariamente, que você vai me ver chorando tão facilmente assim… hahahahah).
E há, ainda, uma passagem sobre a nossa história, o nosso passado e aquilo que, por vezes, não queremos que ninguém veja, porque talvez ninguém seja capaz de compreender:
“Sim, porque os desconhecidos, isso eu entendo quando sento no banquinho frio dos jardins, não têm nada para te perdoar. Nada para esquecer”
O que me faz pensar que o passado de Ninetto, protagonista desta história, não foi nem um pouco fácil, sendo marcado por uma migração forçada e solitária:
“O trem que desce não é o mesmo que sobre. É outra história”
Mas, antes dessa migração, já havia um grande distanciamento da mãe, doente e incapaz de cuidar de seu filho, mas a quem ele ama muito:
“Até o fim, a mudez foi o seu modo de se defender. Da sujeira, dos médicos, da solidão”
Até porque, em sua vida, Ninetto teve poucas pessoas e, menos ainda, pessoas que lhe fossem importantes e cuidassem verdadeiramente dele:
“É uma pena ser filho único. Falta uma palavra importante em seu vocabulário: irmão”
Mas eu estava falando sobre o passado de Ninetto e, ao longo da história, também vamos percebendo que ele carrega mais sombras do que pode parecer em um primeiro momento, o que também lhe causa certa amargura:
“Eu nunca fui uma referência”
Mas essas sombras também são fruto de um erro cometido por ele, um erro gravíssimo:
“Para certos erros não se pode pedir desculpas”
Tal erro faz com que ele seja preso, e a prisão também o transforma muito:
“O cárcere te desabitua inclusive à civilidade. Você esquece dela porque naquela imundície ela é inapropriada”
E é por tudo isso que o início e o fim da vida de Ninetto são tão parecidos: solitários, reflexivos:
“O cárcere cavou um fosso tão profundo que, ao meu lado, sobrou apenas Maddalena”
Eu disse na resenha e reforço aqui: L’ultimo arrivato é um soco no estômago. Uma história inventada, mas que foi real para muitos. Uma história para aprendermos.
E, como prometido, os quotes originais:
“Amici veri mi sa che si può essere solo da picciriddi, quando si è puliti dentro e non si fanno calcoli di interesse né altre oscenità”
“Vedendomi piangere rimase a bocca aperta e mi disse che piangere è l’ultima cosa che bisogna fare a questo mondo perché non serve mai a niente”
“Sì perché gli sconosciuti, lo capisco quando mi siedo sulla panchina fredda dei giardinetti, non hanno niente da perdonarti. Niente da dimenticare”
“Il treno che scende non è lo stesso che sale. È un’altra storia”
“Fino alla fine il mutismo fu il suo modo di difendersi. Dalla sporcizia, dai medici, dalla solitudine”
“È una disdetta essere figli unici. Ti manca una parola importante del vocabolario, fratello”
“Io non sono mai stato un punto di riferimento”
“Per certi sbagli non si può chiedere scusa”
“Il carcere ti disabitua pure alla civiltà. Te la scordi perché in quel luridume è inappropriata”
“Il carcere ha scavato un fossato così profondo che dalla mia parte è rimasta solo Maddalena”