Citações #56 — Resto qui

Gosto de livros que ecoam e ainda me deixam pensando sobre eles mesmo tempo depois de terminar sua leitura.

Resto qui (Marco Balzano), já resenhado neste post, é um desses livros e, felizmente, hoje tenho a oportunidade de revisitá-lo, trazendo para o Blog mais alguns trechos desta obra.

“Credevo che mi potessero salvare, le parole” 

(Eu acreditava que as palavras pudessem me salvar)

A história fala muito — e acredito que deixei isso claro na resenha — sobre (des)pertencimento.

“Ci eravamo abituati a non essere più noi stessi”

(Nós nos acostumamos a não sermos mais nós mesmos)

“– Mamma io voglio andarmene da questo posto. Qui non posso nemmeno più andare a scuola”

(— Mamãe, quero ir embora deste lugar. Aqui não posso sequer ir à escola).

O livro também trata da questão de como a língua que falamos (ou não) é importante no processo acima mencionado.

“In pochi a Curon sapevano leggere, ma nessuno capiva quella lingua che era solo la lingua dell’odio”

(Poucos em Curon sabiam ler, mas ninguém entendia aquela língua que era só a língua do ódio)

“Di fargli imparare una poesia pensai che se non me l’avessero fatto odiare dal profondo delle viscere era una bella lingua, l’italiano. A leggerla mi sembrava di cantare”

(De fazê-los aprender poesia, pensei que se não me tivessem feito odiá-la das profundezas das minhas vísceras, seria uma bela língua, o italiano. Enquanto o lia, parecia que eu cantava)

Como já era de se esperar e imaginar, a obra fala, ainda, sobre as dificuldades do viver.

“Perché vivere vuol dire per forza andare avanti?”

(Por que viver significa, necessariamente, seguir em frente?)

“Nulla è più impietoso della neve che ti cade addosso”

(Nada è mais impiedoso que a neve que cai sobre você)

Uma narrativa, por fim, que nos lembra da pureza das crianças, mesmo em um mudo tão machucado e dolorido.

“Vedrai, ti farà bene stare coi bambini, sono molto meglio degli adulti”

(Você vera que te fará bem estar com as crianças, são muito melhores que os adultos)

Resto qui me apresentou uma Itália que, mesmo estudando tanto sobre o país, eu não conhecia e que, apesar de retratar algo tão triste, era preciso conhecer. Se você quiser saber do que estou falando, não deixe de ler a resenha e, claro, a obra completa.

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Resto qui — Marco Balzano

Título: Resto qui 
Autor: Marco Balzano 
Editora: Einaudi 
Páginas: 192 
Ano: 2020 
Título em português: Daqui não saio

Sabe aquele livro que a gente se pergunta por que nunca leu antes? Pois bem, Resto qui é um desses.

Não digo isso pela sua escrita, que não é tão especial assim, sendo direta e até um pouco dura. Mas, puderas: seus temas não dão muita escolha. E são justamente eles que, para mim, dão tanto destaque a esta história.

“Pelo contrário, vou te contar sobre a nossa vida, sobre sermos sobreviventes. Vou te contar sobre aquilo que aconteceu aqui em Curon. No vilarejo que não existe mais”

O texto começa com uma mãe falando com sua filha, numa espécie de carta, e, neste primeiro momento, podemos perceber uma dor que ainda não compreendemos muito bem a origem, o que nos faz querer seguir adiante, mesmo com medo do que pode vir (e que já sentimos que não tem como ser bom).

“Você não sabe nada sobre mim e, no entanto, sabe muito porque é minha filha”

Logo, então, chegamos ao primeiro assunto que me faz gostar desse livro: Curon

Talvez você já tenha ouvido falar desta pequena cidade italiana, conhecida pela torre de um campanário que desponta do meio de um lago. Há inclusive uma série da Netflix com este nome.

O que poucos sabem é a verdadeira história de Curon, e é justamente isso que encontraremos em Resto qui. Uma história que tem muita relação com o nazismo e a guerra, dois temas que me são caros e que contribuíram para o meu encantamento com esta narrativa, porque aqui aparecem de uma perspectiva diferente da que costumamos encontrar.

“O nazismo era a maior vergonha e cedo ou tarde o mundo perceberia isso”

Apesar de estar na Itália, Curon é uma cidade que faz fronteira com a Suíça e a Áustria, tendo mais características alemãs que italianas propriamente ditas. Seus habitantes, por exemplo, falavam alemão, o que foi um grande problema à época de Mussolini, que obrigou toda a Itália a falar o italiano.

“Contudo o italiano e o alemão eram muros que continuavam a ser levantados. As línguas tinham se tornado marcas de raça. Os ditadores as tinham transformado em armas e declarações de guerra”

Tina, a narradora de Resto qui — assim como praticamente toda a população de Curon —, era uma pessoa de origem e hábitos humildes. Mas havia algo que unia esse povo: o sentimento de lar que a cidade gerava neles. E, por isso, eles lutaram até o fim contra a construção da represa que deixou toda a cidade submersa, restando apenas o campanário da igreja.

“Se nós formos embora, eles terão vencido”

O problema é que os habitantes de Curon não tinham apenas a diga para se preocupar: durante a guerra, tiveram de fazer escolhas nada fáceis.

Enquanto alguns voluntariamente se alistavam aos exércitos nazistas, outros, como o marido de Tina, preferiam desertar e, por isso, tiveram de fugir e viver escondidos.

“Era difícil aceitar, mas tudo havia ficado para trás. Eu deveria apenas não pensar mais nisso”

Resto qui é uma história real e necessária, que vai nos fazer refletir sobre nossas origens, o sentimento de pertencimento, o poder de uma língua, as dores da guerra e do distanciamento dos filhos.

“Era a minha dor secreta, sobre a qual não falavo com ninguém. Nem comigo mesma”

Dentre as tantas críticas que uma história como essa pode fazer, Resto qui ainda se encerra com uma interessante reflexão sobre a banalização turistica da história local.

“A vida era mais uma questão de afetos que de ideias”

O livro foi traduzido para o português, recebendo o título de Daqui não saio. No entanto, li o original, em italiano, e os trechos acima foram traduzidos por mim. Abaixo, deixo, na ordem usada ao longo desta resenha, os trechos tais quais li no livro.

“Ti racconterò invece della vita di noi, del nostro essere sopravvissuti. Ti dirò di quello che è successo qui a Curon. Nel paese che non c’è più”

“Non sai niente di me, eppure sai tanto perché sei mia figlia”

“Il nazismo era la vergogna piú grande e presto o tardi il mondo se ne sarebbe accorto”

“Invece l’italiano e il tedesco erano muri che continuavano ad alzarsi. Le lingue erano diventate marchi di razza. I dittatori le avevano trasformate in armi e dichiarazioni di guerra”

“Se ce ne andremo avranno vinto loro”

“Era difficile da accettare, ma tutto era alle spalle. Dovevo solo non pensarti piú”

“Era il mio dolore segreto, di cui non parlavo con nessuno. Nemmeno con me stessa”

“La vita era una questione di idee prima che di affetti”

É possível ler qualquer uma das versões em formato ebook, basta clicar na que você preferir abaixo:

Due vite — Emanuele Trevi

Título: Due vite
Autor: Emanuele Trevi
Editora: Neri Pozza Editore
Páginas: 128
Ano: 2020

Como se resenha um livro cuja história vai muito além daquela impressa em suas páginas? Sim, porque Due Vite nos conta sobre muito mais que apenas duas vidas, mas também sobre todo um universo literário que ainda temos a explorar.

Escrever sobre uma pessoa real e escrever sobre um personagem imaginado, no final das contas, é a mesma coisa: é preciso obter o máximo na imaginação de quem lê, usando o pouco que a linguagem oferece.

E se eu já sou uma ferrenha defensora de que a leitura de um livro é totalmente única para cada leitor, este aqui vem para provar que é assim mesmo: leitores com variados níveis de conhecimento de mundo terão experiências totalmente diferentes ao se deparar com esta obra.

“Porque só é verdade aquilo que nos pertence, aquilo do qual viemos fora”

Para ser mais clara: eu sequer sabia (porque também não me dei ao trabalho de procurar antes) se o personagem aqui retratado era ou não real. Acabei deixando para pesquisar somente ao final da leitura e, bem, descobri que sim, o que por si só já muda um pouco da interpretação que dei à obra.

“Porque nós vivemos duas vidas, ambas destinadas a acabar: a primeira é a vida física, feita de sangue e respiração; a segunda é aquela che se desenvolve na mente de quem nos quis bem”

Nos dois primeiros capítulos, por exemplo, somos muito bem contextualizados com relação ao nosso protagonista: quem era e como era, tanto fisicamente quanto em seus modos e manias. Se esta fosse uma obra fictícia, tamanha riqueza de detalhes seria de espantar, mas Rocco Carbone realmente existiu, então posso dizer que, ao concluir esta leitura, é difícil não ter uma visão bem detalhada de quem foi este escritor italiano — porque sim, Rocco Carbone também foi um escritor italiano.

“Rocco Carbone soa, na verdade, como uma perícia geológica”

Mas, como eu disse acima, não é apenas à Rocco Carbone que somos apresentados ao longo destas páginas. Por meio das palavras de Emanuele Trevi, conhecemos também Pia Pera, outra figura pertencente ao meio literário italiano. Contudo, vamos ainda mais além: a partir da visão de Emanuele e da amizade que ele teve com esses dois protagonistas, outras literaturas descortinam diante de nossos olhos, tanto com a menção e comparação a outros escritores italianos, quanto com escritores estrangeiros, principalmente russos, que eram objeto de estudo de Pia.

“Aquilo que sempre desejei a Rocco, nos tantos anos da nossa amizade, foi um pouco mais de falta de consciência”

Portanto, ao mesmo tempo que o autor, por meio de sua escrita, nos oferece uma visão muito particular e próxima, não apenas de si, mas principalmente de Rocco e Pia, ele também nos transporta por meio de menções e comparações que requerem muito conhecimento literário para que possamos aproveitá-las ainda mais.

“Já é difícil dar um bom conselho; mas se quem fala com você só quer ser escutado, então não há mais nada que se possa fazer”

É assim que um livro que, em um primeiro momento, poderia parecer despretensioso, logo transforma-se numa riqueza e fonte de muitas possíveis conexões e aprendizados.

“Não nascemos para nos tornar sábios, mas para resistir, escapar, roubar um pouco de prazer em um mundo que não foi feito para nós”

Due vite foi vencedor do Prêmio Strega — prêmio literário italiano, concedido a um autor publicado na Itália entre os dias 1º de março do ano anterior e 28 de fevereiro do ano corrente — em 2021. A obra ainda não foi traduzida para o português e os trechos acima foram apresentados com tradução minha. Abaixo você pode conferir os originais, na ordem em que foram apresentados ao longo desta resenha.

“Scrivere di una persona reale e scrivere di un personaggio immaginato alla fine dei conti è la stessa cosa: bisogna ottenere il massimo nell’immaginazione di chi legge utilizzando il poco che il linguaggio ci offre”

“Perché è vero solo ciò che ci appartiene, ciò da cui veniamo fuori”

“Perché noi viviamo due vite, entrambe destinate a finire: la prima è la vita fisica, fatta di sangue e respiro, la seconda è quella che si svolge nella mente di chi ci ha voluto bene”

“Rocco Carbone suona, in effetti, come una perizia geologica”

“Quello che ho sempre augurato a Rocco, nei tanti anni della nostra amicizia, è stato un minimo di inconsapevolezza in più”

“Già è difficile dare un buon consiglio; ma se chi ti parla vuole solo essere ascoltato, allora non c’è più niente da fare”

“Non siamo nati per diventare saggi, ma per resistere, scampare, rubare un po’ di piacere a un mondo che non è stato fatto per noi”

Se quiser saber mais sobre essa obra, clique abaixo!

Citações #38 — L’ultimo arrivato

Falei sobre L’ultimo arrivato (Marco Balzano) recentemente, mas, como acaba acontecendo quando gosto muito de um livro, diversos quotes ficaram de fora da resenha.

Por ser uma obra italiana, farei o que costumo fazer: vou colocar os quotes em português (tradução livre, feita por mim) e, ao final, os originais, na ordem em que aparecerem aqui, para quem quiser dar aquela espiadinha nessa língua maravilhosa.

A história de L’ultimo arrivato é forte e nos faz refletir sobre aspectos bem diversos de nossa existência, como, por exemplo, amizades e preconceitos:

“Amigos verdadeiros me parece que só se pode ser quando pequenos, quando somos limpos por dentro e não fazemos cálculos de interesse nem outras obscenidades.

E ainda nesse caminho dos preconceitos — e coisas que precisamos desmitificar —, há uma passagem que chamou minha atenção, falando sobre o choro:

“Vendo-me chorar, ficou de boca aberta e me disse que chorar é a última coisa que devemos fazer neste mundo, porque não serve para nada”

Esse trecho chamou minha atenção porque eu sou muito a favor do choro livre, por quem for! (O que não significa, necessariamente, que você vai me ver chorando tão facilmente assim… hahahahah).

E há, ainda, uma passagem sobre a nossa história, o nosso passado e aquilo que, por vezes, não queremos que ninguém veja, porque talvez ninguém seja capaz de compreender:

“Sim, porque os desconhecidos, isso eu entendo quando sento no banquinho frio dos jardins, não têm nada para te perdoar. Nada para esquecer”

O que me faz pensar que o passado de Ninetto, protagonista desta história, não foi nem um pouco fácil, sendo marcado por uma migração forçada e solitária:

“O trem que desce não é o mesmo que sobre. É outra história”

Mas, antes dessa migração, já havia um grande distanciamento da mãe, doente e incapaz de cuidar de seu filho, mas a quem ele ama muito:

“Até o fim, a mudez foi o seu modo de se defender. Da sujeira, dos médicos, da solidão”

Até porque, em sua vida, Ninetto teve poucas pessoas e, menos ainda, pessoas que lhe fossem importantes e cuidassem verdadeiramente dele:

“É uma pena ser filho único. Falta uma palavra importante em seu vocabulário: irmão”

Mas eu estava falando sobre o passado de Ninetto e, ao longo da história, também vamos percebendo que ele carrega mais sombras do que pode parecer em um primeiro momento, o que também lhe causa certa amargura:

“Eu nunca fui uma referência”

Mas essas sombras também são fruto de um erro cometido por ele, um erro gravíssimo:

“Para certos erros não se pode pedir desculpas”

Tal erro faz com que ele seja preso, e a prisão também o transforma muito:

“O cárcere te desabitua inclusive à civilidade. Você esquece dela porque naquela imundície ela é inapropriada”

E é por tudo isso que o início e o fim da vida de Ninetto são tão parecidos: solitários, reflexivos:

“O cárcere cavou um fosso tão profundo que, ao meu lado, sobrou apenas Maddalena”

Eu disse na resenha e reforço aqui: L’ultimo arrivato é um soco no estômago. Uma história inventada, mas que foi real para muitos. Uma história para aprendermos.

E, como prometido, os quotes originais:

“Amici veri mi sa che si può essere solo da picciriddi, quando si è puliti dentro e non si fanno calcoli di interesse né altre oscenità”

“Vedendomi piangere rimase a bocca aperta e mi disse che piangere è l’ultima cosa che bisogna fare a questo mondo perché non serve mai a niente”

“Sì perché gli sconosciuti, lo capisco quando mi siedo sulla panchina fredda dei giardinetti, non hanno niente da perdonarti. Niente da dimenticare”

“Il treno che scende non è lo stesso che sale. È un’altra storia”

“Fino alla fine il mutismo fu il suo modo di difendersi. Dalla sporcizia, dai medici, dalla solitudine”

“È una disdetta essere figli unici. Ti manca una parola importante del vocabolario, fratello”

“Io non sono mai stato un punto di riferimento”

“Per certi sbagli non si può chiedere scusa”

“Il carcere ti disabitua pure alla civiltà. Te la scordi perché in quel luridume è inappropriata”

“Il carcere ha scavato un fossato così profondo che dalla mia parte è rimasta solo Maddalena”

L’ultimo arrivato — Marco Balzano

Título: L'ultimo arrivato
Autor: Marco Balzano
Editora: Sellerio Editore Palermo
Páginas: 205
Ano: 2018

Provavelmente uma das coisas que mais me faz apaixonada pelos livros é o quanto posso aprender com eles. E L’ultimo arrivato foi uma obra que trouxe muitas novidades para mim.

Infelizmente, a obra ainda não tem tradução para o português, mas para dar um gostinho dela, traduzirei os trechos que selecionei para compor esta resenha, colocando ao final os trechos originais, na sequência que aparecem aqui.

“Para aprender é preciso confiança e eu não confiava nele”

Uma história inventada, mas que ao mesmo tempo é real: fruto de muitas pesquisas e recortes de entrevistas com pessoas de carne e osso, L’ultimo arrivato nos mostra uma Itália de não muitos anos atrás e que, ao mesmo tempo, pouco se sabe ou se estuda.

“Não restaram traços, porque o esforço dos pobres cristãos não deixa vestígios. Não resta testemunho disso nem mesmo nos livros escolares, onde se lê apenas sobre o rei e a rainha”

Logo no início da obra o autor já nos explica sobre o que ela trata e o tema, por si só, nos faz pensar em uma história de terror que nos deixa boquiabertos por ter, de fato, acontecido.

“Nos anos cinquenta, a mudar-se do Sul ao Norte, em busca de trabalho, não eram apenas homens e mulheres prontos para a experiência e para a vida, mas também crianças — às vezes com menos de dez anos — que nunca haviam se afastado de casa. O fenômeno da imigração infantil envolve milhares de garotinhos que diziam adeus os pais, aos irmãos e se mudavam — muitas vezes eternamente — para as metrópoles distantes”

Em L’ultimo arrivato conhecemos Ninetto, um garoto que teve o mesmo destino de tantos de sua época e idade: mudar-se para Milão em busca de uma vida um pouco melhor. Mas a mudança era nos termos acima mencionados: sozinho e para trabalhar.

“Há momentos nos quais você não tem mais nada no que se agarrar a não ser a sua história”

Durante 31 capítulos vamos acompanhando a história desse garoto que, no início, levava uma vida muito simples — e já com algumas dificuldades — mas até que, na medida do possível, feliz.

“Não é verdade que basta boa vontade para virar a página e recomeçar”

Apesar de nem sempre ter comida na mesa — ou comer sempre a mesma coisa — e ver a sua mãe doente — mas não entender o que acontecia com ela — Ninetto ia à escola e, a cada dia, voltava fascinado com o que aprendia ali.

“Depois do Peppino, ainda que eu jamais o tenha dito, a pessoa a quem eu mais queria bem era o professor Vincenzo”

Depois de nos contar sua infância, Ninetto narra a viagem de trem até o norte e tudo o que passa a viver nessa nova e desconhecida cidade. Ali ainda há pobreza, mas também há a chance de se mudar de vida com muito suor e muita vontade.

“De qualquer forma, foi justamente aquele trabalho de mensageiro que me fez entender que Milão é um lugar mágico e horrível ao mesmo tempo”

Um ponto muito interessante da narrativa é que ela é feita de maneira crua, sem máscaras e sem a menor intenção de colorir uma realidade tão cinza. O que não significa, porém, que as palavras empregadas não transmitam com certa magia uma história tão difícil.

“Talvez as lembranças sejam aqueles fatos que não conseguimos esquecer”

Ao longo da narrativa, não sei se pelo fato dela ser narrada em primeira pessoa ou se pelo fato de ser muito bem escrita — ou talvez as duas coisas ao mesmo tempo — nos sentimos imersos, lendo aquelas passagens quase como quem assiste a um filme.

E, para nos deixar ainda mais presos à história, em determinado momento ficamos sabendo que Ninetto viveu um tempo na cadeia e passamos a querer saber o motivo disso, ainda que ele não dê grande importância ao fato. Pelo contrário, aliás, os anos passados na prisão são apenas um borrão na narrativa, mesmo que depois disso, Ninetto jamais possa ser quem fora antes.

“Não há o que dizer, é fora do cárcere que está a verdadeira pena a se cumprir”

Mas o livro não é apenas tristeza. Como eu disse antes, é uma história sem máscaras, mostrando os momentos como eram. Há a celebração das pequenas conquistas, o amor, o casamento, a filha, o reencontro com a família, a poesia.

“Tem quem nasce avenida principal e quem nasce rua sem saída”

Se você lê em italiano, recomendo esta obra — desde que você aceite um soco no estômago — e se você não lê, recomendo ao menos que pesquise sobre esse momento da História italiana. Procure sobre os “trens da felicidade” e sobre os anos cinquenta.

E, como prometido, seguem os trechos originais, na ordem em que apareceram nesta resenha:

“Per imparare bisogna fiducia e io di lui non ne avevo”

“Non ne è rimasta traccia perché la fatica dei poveri cristi non lascia mai traccia. Non ne rimane testimonianza nemmeno nei libri di scuola, dove si legge soltanto del re e la regina”

“Negli anni Cinquanta a spostarsi dal Meridione al Nord in cerca di lavoro non erano solo uomini e donne pronti all’esperienza e alla vita, ma anche bambini a volte più piccoli di dieci anni che mai si erano allontanati da casa. Il fenomeno dell’emigrazione infantile coinvolge migliaia di ragazzini che dicevano addio ai genitori, ai fratelli, e si trasferivano spesso per sempre nelle lontane metropoli”

“Arrivano dei momenti in cui non hai nient’altro che la tua storia a cui aggrapparti”

“Non è vero che basta la buona volontà per girare pagina e ricominciare”

“Dopo Peppino, anche se non gliel’ho mai detto, la persona a cui volevo più bene era il maestro Vincenzo”

“Comunque, è stato proprio quel lavoro di galoppino a farmi capire che Milano è un posto magico e orribile insieme”

“Forse i ricordi sono quei fatti che non riusciamo a dimenticare”

“Non ci sono storie, è fuori dal carcere la vera pena da scontare”

“C’è chi nasce strada principale e chi strada senza uscita”

O que os italianos leem? [tradução 15]

“O que os italianos leem” é uma pergunta que vira e mexe salta em minha cabeça — tanto é que fui conferir se eu realmente nunca havia traduzido um artigo do tipo —, principalmente quando ouço as pessoas dizendo que brasileiro não lê, que nós não valorizamos a nossa literatura. Pergunto-me se é assim apenas aqui ou em todo o mundo (ou ao menos em outros lugares do mundo).

Nas minhas buscas por artigos para traduzir para este espaço do blog, já me deparei mais de uma vez com afirmações de que os italianos leem pouco. Sim, a mesma afirmação que fazemos sobre nós mesmos. Faltava responder apenas o que, afinal, leem os italianos.

Por isso, no post de hoje, trago a tradução deste artigo, escrito por Enzo Scudieri e postado em 21 de novembro de 2020 no site habitante.it. Para ler o original, basta clicar aí em cima, no “deste artigo” que você chegará ao post em italiano. E vamos à tradução?


Ler livros é uma forma de viajar para milhares de mundos diversos, conhecer pessoas e apaixonar-se por histórias. Mas qual é a relação dos italianos com a leitura, o que e quanto leem?

Os italianos amam ler?

A paixão pela leitura te impede de dormir à noite, porque você está tão arrebatado por aquilo que está lendo que não quer parar; amar os livros significa comprar novos exemplares, mesmo já tendo a casa invadida por livros que você ainda precisa ler. Ler ajuda a abrir a mente e desenvolver ideias; a cultura da leitura gera progresso social, econômico e, obviamente, cultural.

Através das últimas estatísticas sobre o que os italianos leem, descobrimos que lê-se mais no norte, entre as mulheres e entre pessoas com mais títulos acadêmicos. As compras de livros são direcionadas prevalentemente aos romances e contos, de faixa econômica médio-baixa.

O relatório publicado pelo Istat* em 2019 sobre Produção e leitura de livros na Itália revela que 40,6% da população lê ao menos um livro por ano, dado estável no último triênio. 78,4% dos leitores leem só livros físicos, 7,9% somente ebook ou livros on line.

Diferentemente daquilo que se pode imaginar, a quantidade mais alta de leitores continua a ser aquela dos jovens: em 2018, os leitores entre 15 e 17 anos eram em 54,5%, quantidade em crescimento em relação aos 47,1% de 2016. Entre homens e mulheres existe uma lacuna relevante: o percentual de leitoras é de 46,2% contra 34,7% de leitores. Em absoluto, porém, o público mais afeiçoado à leitura é representado por garotas entre 11 e 19 anos (mais de 60% leu pelo menos um livro no ano).

O que os italianos leem?

Os rankings falam claramente e, deixem-me dizer, são sempre muito iguais ano a ano. Existem autores que estão sempre no “top ten”: Smith, Camilleri, Tamaro, Grishmam. Depois estão os personagens do momento, aqueles que escrevem livros para desfrutar de uma notoriedade sazonal, autores no estilo Fabio Volo, por exemplo.

Nunca faltam nos rankings, também, escritores como Stefano Benni e Beppe Servagnini. E não nos esqueçamos, depois, de toda a vertente bibliográfica de personagens famosos, muitas vezes ainda vivos, que decidem, justamente, escrever um livro para contar a sua história.

Fecharei esta lista com os agora indispensáveis livros de cozinha: encontramos um pouco de tudo, dos chef famosos para o grande público, graças às participações em reality shows, à vizinha de casa, que conta no seu blog as receitas da avó. E o sucesso do blog é, então, traduzido em livro.

As grandes livrarias

As livrarias de grandes redes geralmente estão cheias de pessoas entre as prateleiras, curiosas ou ocupadas, folheando um livro ou bebendo um café na cafeteria da própria livraria. Nos últimos anos, de fato, assistimos a uma transformação das livrarias em verdadeiros “centros comerciais”.

Feltrinelli, Mondadori, Mel Bookstore, Giunti al punto, apenas para citar algumas, abandonaram as aparências de simples livrarias. Tudo é dividido, separado e exposto em setores específicos, identificados por placas realmente muito similares àquelas das seções dos supermercados: em evidência é possível encontrar imediatamente os livros do ranking nacional e também os inesquecíveis “conselhos” de compras.

E, caminhando pelas seções, pode-se encontrar também toda uma oferta de multimídias como dvd, cd e videogame. A seção de papelaria também tem uma oferta muito rica de canetas, agendas, cadernos e papéis de vários tipos e cores. Essas redes, se por um lado multiplicam a oferta e a enriquecem com outras comodidades, por outro correm o risco de perder sua vocação original e a relação de confiança livreiro-leitor.

As livrarias independentes e lojas online

Do relatório ISTAT surge, porém, um dado contraditório. As modalidades de distribuição consideradas mais estratégicas pelos editores são as livrarias independentes, os canais de distribuição online e os eventos como feiras, festivais e salões de leitura.

As grandes distribuições organizadas (supermercados, grandes lojas) e os pontos de vendas genéricos (bancas, papelarias, autogrill, correios) são considerados canais de distribuição relativamente menos eficazes para aumentar a demanda e ampliar o mercado editorial.

Os editores, além disso, estão investindo sempre mais, também, na oferta de títulos em formato e-book: o percentual de obras publicadas em formato físico, disponíveis também em versão digital, em apenas dois anos, passou de 35,8% a quase 40%. A versão digital é mais comum para:

  • aventura e suspense (82,1%)
  • informática (62,9%) e matemática (61,4%)
  • atualidade político-social e econômica (56,1%)

Os grandes editores publicam mais de 90% dos livros em formato e-book, com uma cobertura de obras publicadas fisicamente de 45,8%.

Lê-se mais no Norte e nas grandes cidades

No Norte, uma pessoa a cada duas, na Sicília, só uma a cada quatro. A leitura está muito mais difundida nas regiões do Norte: 49,9% das pessoas que moram no Noroeste leu pelo menos um livro e 48,4% no Nordeste. No Sul, a cota de leitores cai para 26,7% enquanto nas ilhas observa-se uma realidade muito diferente entre a Sicília (24,9%) e a Sardenha (44,7%).

O hábito da leitura, além disso, é muito difundido nas cidades centrais de áreas metropolitanas, onde declaram-se leitores pouco menos da metade dos habitantes (49,2%) enquanto a cota cai para 36,1% nas cidades de menos de 2 mil habitantes.

O nível de instrução também se confirma como um elemento determinante: leem livros 73,6% dos graduados, 46,7% dos diplomados e só 26,5% dos que possuem acima do nível elementar.

A leitura é mais fortemente influenciada pelo ambiente familiar: as crianças e adolescentes são certamente favorecidos se os pais têm esse hábito. Por exemplo, entre os jovens abaixo de 18 anos, 74,9% entre quem tem mães e pais leitores e só 36,2% entre aqueles que têm ambos os pais não leitores.

Pílulas de curiosidade. Eu não sabia e você?

  • As bibliotecas mais frequentadas da Itália são aquelas do Trentino Alto-Adige e do Valle d’Aosta.
  • As motivações que encorajam as pessoas a irem a uma biblioteca são “pegar um livro emprestado” (57,1%) e “ler e estudar” (40,1%).
  • Na Itália são cerca de 8 milhões e 960 mil pessoas que foram a uma biblioteca pelo menos uma vez por ano.

* O ISTAT é o Instituto Nacional de Pesquisa italiano (o correspondente ao nosso IBGE) e eles sempre têm dados sobre os mais diversos assuntos.


E aí, o que achou deste artigo e dos dados que ele traz? Você imaginava algo assim?

As pequenas virtudes — Natalia Ginzburg

Título: As pequenas virtudes
Original: Le piccole virtù
Autora: Natalia Ginzburg
Editora: Einaudi
Páginas: 65 
Ano: 1962 

Antes de começar a resenha em si, gostaria de fazer como a própria Natalia Ginzburg e deixar aqui um aviso: li o livro em língua italiana (por isso não tem o nome do tradutor ali em cima), mas trarei as citações de acordo com a tradução feita por Maurício Santana Dias, na edição brasileira, publicada em 2015 pela Cosac Naify.

O aviso da autora, por outro lado, é sobre o fato de que a obra reúne ensaios publicados em diferentes jornais e revistas, bem como em períodos diferentes de sua vida. E já com esse aviso inicial temos a oportunidade de nos deliciar com a escrita de Natalia. As pequenas virtudes é aquele livro que queremos ler, mas que até entrar em contato com ele, não temos como saber (então se permita entrar em contato com ele!).

“E, vejam bem, não é que se possa esperar da escrita um consolo para a tristeza”

O livro é dividido em duas partes, mas confesso que não ficou muito claro para mim se há algo que justifique essa divisão. De qualquer forma, a primeira parte é composta pelos seguintes títulos:

  • Inverno em Abruzzo
  • Os sapatos rotos
  • Retrato de um amigo
  • Elogio e lamento da Inglaterra
  • La maison Volpé
  • Ele e eu

Não vou falar sobre cada um deles, mas também não posso deixar de comentar que Inverno em Abruzzo foi um bom começo para este livro. Ele nos dá a dimensão da pessoalidade por trás dos textos, além de já nos permitir uma deliciosa viagem através das palavras da autora.

“Uma vez sofrida, jamais se esquece a experiência do mal”

E quando eu digo “deliciosa viagem” não estou necessariamente falando de algo feliz, muito menos de uma passeio, mas do fato que a escrita é tão envolvente e tão bem construída que todo o cenário surge diante de nossos olhos.

“Mas aquele era o tempo melhor da minha vida, e só agora, que me escapou para sempre, só agora eu sei”

Mas desses primeiros ensaios, aquele que mais chamou minha atenção foi Os sapatos rotos. Isso porque o texto fala muito mais que sobre “sapatos quebrados”. Fala sobre viver e, consequentemente, sofrer. E sobre seguir adiante mesmo assim. A metáfora presente neste ensaio é tão bem construída que nos emociona.

“Tenho os sapatos rotos, e a amiga com quem vivo neste momento também tem os sapatos rotos”

A imagem dos sapatos, aliás, não aparece apenas neste texto, mas também em outros. E é algo que realmente nos faz pensar.

“Aliás, para aprender mais tarde a caminhar com sapatos rotos talvez seja bom ter os pés enxutos e aquecidos quando se é criança”

Eu falei que não ia comentar texto por texto, mas os ensaios dessa primeira parte são bem marcantes, então também gostaria de dizer que achei divertido o Elogio e lamento da Inglaterra e que achei curiosa a relação de amizade apresentada em Retrato de um amigo.

“Sobre minhas dores reais, não choro nunca”

Mas o ensaio que não posso mesmo deixar de citar é Ele e eu. Um retrato de uma relação real. Até demais. Tudo começa às mil maravilhas e, pouco a pouco, vai se tornando algo complicado. Triste. E a maneira que Natalia apresenta isso é muito bonita.

“Acho que ele gosta que eu dependa dele, em tantos aspectos”

Os textos da segunda parte, por sua vez, são:

  • O filho do homem
  • O meu ofício
  • Silêncio
  • As relações humanas
  • As pequenas virtudes

Nessa segunda parte achei alguns textos mais longos e cansativos. Mas O meu ofício é bem interessante, porque a autora vai traçando sua vida de escritora, nos contando sobre inspirações e momentos. E imagine tudo isso feito com essa linguagem tão dela que, a essa altura, já estamos mais que afeiçoados.

“Assim, e cada vez mais, tenho a sensação de errar em cada coisa que faço”

Agora As pequenas virtudes mais que ser o ensaio que dá nome ao livro, é, também, um texto lindíssimo. Fechou com chave de ouro, nos deixando reflexivos e, ao mesmo tempo, com o coração quentinho.

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“A literatura é o instrumento mais potente para pensar o mundo”

“A literatura é o instrumento mais potente para pensar o mundo”

Sim, meus queridos, hoje me deu vontade de comentar um pouco sobre uma matéria que leva o título acima e que vocês podem ler na íntegra aqui. Um post um pouco diferente e que acho muito válido com relação à temática deste Blog. Vamos nessa?

Em primeiro lugar, acho importante destacar que quem faz a afirmação acima e tantas outras presentes ao longo da matéria mencionada é um professor de literatura italiana da Universidade de São Paulo: Maurício Santana Dias. Porém o Maurício não é “apenas” professor, mas também um grande tradutor (falo mais sobre isso daqui a pouco). E, seja para ser um excelente professor de literatura, seja para ser um grande tradutor, é preciso, antes de mais nada, ser um ótimo leitor.

Quando falo que o Maurício é um grande tradutor, estou me referindo às inúmeras obras traduzidas por ele e também aos prêmios que ele já recebeu por seu trabalho. O mais recente prêmio foi obtido este ano mesmo, na Itália, um pouco antes do país fechar as portas diante da pandemia do coronavírus. Ele foi condecorado com o Prêmio Nacional de Tradução do Ministérios de Bens Culturais e do Turismo da Itália. Chique, né?

Ao longo da matéria em questão, são destacadas algumas falas do professor, sobre a importância da literatura, inclusive como instrumento para pensar o mundo (daí o título) e a importância de todos os tipos de literatura, não apenas a de ficção. Além disso, ainda há muita dica de livros da literatura italiana (já traduzidos para o português) extremamente adequados para o momento que vivemos hoje (e para tantos outros).

“A literatura vai muito além do entretenimento”

Infelizmente, porém, sou obrigada e discordar de uma pequena parte da fala do professor: ele afirma que esse é o momento que mais temos para ler. Não sei se é bem assim. Tenho visto muitas pessoas que estão tendo de trabalhar o dobro do que trabalhavam antes (mesmo estando em casa — ou talvez justamente por causa disso) ou então pessoas tão esgotadas mentalmente que não têm coragem nem mesmo de pegar um livro mais leve para ler. E, no final das contas, tudo isso é extremamente compreensível. Se você está lendo menos que o normal, contrariando expectativas vindas de não sei onde, saiba que isso não te torna menos leitor e menos nada diante dos outros. A literatura vai muito além do entretenimento, mas ler ainda deve ser um momento de prazer, não de pressão. E precisamos, agora, mais do que nunca, viver um dia de cada vez, com calma, e sem pressões desnecessárias.

E vocês, concordam que a literatura é o instrumento mais potente para pensar o mundo?

Citações #28 — E as estrelas quantas são?

Citações #28

Hoje vamos de citações de “E as estrelas quantas são?“, um ótimo livro, escrito pela italiana Giulia Carcasi, que nos fazer refletir (e relembrar) sobre a adolescência, fase de inúmeras descobertas (e decepções). Livro bem adequado, também, para uma segunda-feira pós-ENEM…

“Se você se queima com fogo uma vez, fica sempre com medo de se queimar novamente”

(p.52)

O livro possui dois lados e cada lado é narrado por um personagem: Carlos e Alice, dois jovens sonhadores e românticos.

“Há noites em que mal se vê uma estrela, mas, quando se está apaixonado, se veem muitas”

(p. 146)

 

“Os corpos não são feitos para estar sós, o amor é um jogo de encaixe”

(p.146)

É claro que, ao longo de E as estrelas quantas são? Carlos e Alice vão percebendo que não é tão fácil assim ser o que são e, principalmente, ter o coração que eles têm.

“— Sabe qual é a verdade? A verdade é que as pessoas só lutam por si mesmas… No entanto, as melhores guerras são aquelas que se lutam pelos outros, porque essas têm a força de um ideal puro, não de um interesse. Ninguém lutou por mim”

(p. 142)

 

“É triste quando os objetos duram mais do que as pessoas”

(p. 148)

Carlos e Alice, com o passar dos dias do último ano escolar deles aprendem muito mais do que escola pode ensinar.

“Agora ela acredita na terra, que é um acreditar triste porque não faz olhar para o alto”

(p.85)

E apesar de quebrarem a cara (e o coração), não deixam de ser os seres humanos que são.

“Acho que às vezes a gente tem que aguentar uma tempestade dessas , sem motivo, só porque alguém precisa desabafar um pouco”

(p.76)

Acho que já deu para perceber que esse é um daqueles livros que nos deixam reflexivos. E que são poéticos, ah, como são! Vale a leitura, sem dúvidas.

“Minha mãe me pede um pouco de vida, mas hoje não sei como lhe dar, também estou procurando”

(p. 50)
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E as estrelas, quantas são? — Giulia Carcasi

Título: E as estrelas, quantas são?
Original: Ma le stelle quante sono
Autor: Giulia Carcasi
Editora: Planeta
Páginas: 272 
Ano: 2011
Tradutor: Letícia Martins de Andrade

e as estrelas

[Antes de começar a ler esse post faça um favor para mim e leia o título desse livro em italiano. Olha que coisa mais linda!]

Esse livro chegou até mim de forma inesperada: um presente fora de época. Mas mais inesperado ainda foi o que encontrei diante de mim: não um livro, mas dois. De um lado temos a história de Alice Scaricca; de outro, a história de Carlo.

“Alice é bonita justamente por isso, porque tem os olhos cheios de alguma coisa que não é desta terra, alguma coisa que não foi contaminada”

(p. 25 – Carlo)

Dois jovens que estão no último ano da escola, vivendo uma intensa fase de descobertas. Vivendo aquela fase pela qual todos nós, mais cedo ou mais tarde, acabamos por passar, cada um à sua maneira.

“Me sinto como alguém que procurou manter em equilíbrio muitas coisas que depois acabaram caindo: o amor, a família, a amizade, os exames…”

(p. 141- Alice)

Alice e Carlo não são os populares da escola, muito pelo contrário: são “esquisitos”, estudiosos, têm poucos amigos. E mesmo sendo tão parecidos, eles conseguem ter experiências bem diversas (claro).

“Estou cansada de me colocar na pele dos outros. Agora tenha a minha própria para cuidar”

(p. 85 – Alice)

Cada um deles, a seu modo, está descobrindo o amor. E também a decepção, a traição, o mundo adulto. Eles estão vivendo as suas experiências, enquanto nos mostram muito daquilo que podemos ter vivido também.

“Porque se tornar um homem não significa ter feito sexo; significa ter coragem de enfrentar os próprios medos e de lutar por quem se ama”

(p. 108 – Carlo)

Mesmo depois de ler E as estrelas, quantas são? não sei se há uma maneira certa de encará-lo. Comecei com a parte de Alice e depois fui para a parte de Carlo. Mas também pensei em alternar as partes ou começar por Carlo e depois ir para a Alice. Não sei como esses caminhos poderiam ter mudado minha percepção sobre o livro. De qualquer forma, achei a parte da Alice mais intensa, profunda (e mais longa, isso é inegável). Mas a parte de Carlo tem a sua poesia.

“Tudo aquilo que lhe dá coragem é poesia, tudo aquilo que segura a sua mão e lhe explica o mundo, que faz você se sentir menos só, que ajuda você a se entender e a se perceber”

(p.124- Alice)

As histórias de ambos acabam se cruzando, mas ainda que tenha algo da narrativa de um na narrativa do outro, o livro consegue não ser repetitivo, pois é realmente interessante ver o ponto de vista de cada um e a forma que eles enxergam os mesmos acontecimentos.

“Haveria menos guerras se as pessoas despertassem com uma história”

(p.9 – Alice)

Eu me deliciei lendo esse livro. Uma leitura feita aos poucos, com as pausas necessárias para absorver a transformação desses dois jovens. Transformação essa pela qual tantos de nós já passaram em algum momento.

“Mas o tempo corre rápido e não manda aviso, não diz que está prestes a te alcançar e te deixar para trás”

(p.17 – Alice)
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